Quando perdemos alguém, a dor é imensa, mas imagine esta dor sem poder falar sobre ela, ter que chorar escondido e ficar calado para não ser julgado? Não poder demonstrar esse sentimento tão dolorido, é um mergulho solitário no sofrimento. E é assim que muitas vezes acontece com a família multiespécies quando perdem seus filhos de quatro patas, os cães e gatos. A sociedade não compreende e não reconhece essa perda, mesmo na atualidade, e isso acaba gerando ainda mais dor.
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O luto é um processo vivenciado quando estamos diante da ruptura de um vínculo muito significativo e de grande importância. Só quem pode ter a dimensão desse vinculo é quem vive a relação, seja ela com um familiar, um amigo ou um filho de quatro patas. O luto pela perda de um desses filhos, para a família multiespécies, é tão sofrido quanto a perda de um ser humano. Essa dor produz ainda mais sofrimento quando não é acolhida nem entendida. No consultório, escutamos muitas vezes frases de pacientes enlutados, como: “Não posso chorar, pois sou julgado e escuto de muitos amigos e familiares que é somente um cachorro ou gato, e que não preciso sofrer tanto por um animal”. Mas é preciso empatia para acolher a dor do outro. Se existir um suporte emocional de pessoas queridas e que possam compreender a perda de um filho de quatro patas, aceitando que realmente se trata de um momento de sofrimento, esse processo poderá ocorrer de uma forma menos difícil.
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Algumas frases podem ferir e machucar nesse momento difícil de perda e que devem ser evitadas por aqueles que estão ao redor: “Era apenas um gato ou um cachorro”, “compre outro”, “adote outro, tem tantos abandonados”. Palavras assim podem aumentar o sofrimento para quem está enlutado. Pode ser que chegue o momento de se ter outro filho de quatro patas, mas isso ocorrerá no tempo que a família decidir, sentir que é o momento certo e estiver pronta para receber um novo membro. É preciso passar pelo tempo do luto, e este é diferente para cada pessoa, pois se trata de uma perda, um rompimento com alguém que partiu. Ser incompreendido e não ouvido na sua dor neste momento é difícil, porque o processo de luto necessita que o enlutado fale sobre ele. O luto pelos filhos de quatro patas acaba entrando no chamado luto não reconhecido, muitas vezes não validado pela sociedade. As pessoas ainda agem com certa estranheza, embora isso tenha diminuído um pouco.
Qual a fórmula para se enfrentar o luto? Ela não existe. Cada ser humano é único e se relaciona de formas diferentes. O que existe no luto é uma oscilação de sentimentos entre o sofrimento pela perda e também uma necessidade de seguir a rotina, uma dualidade de sentimentos. As emoções podem oscilar durante um dia: momentos de tristeza e choro e outros momentos de tentativas de seguir em frente. Com o transcorrer do tempo vai ocorrendo um equilíbrio entre esses dois polos, mas pode acontecer do enlutado sentir mais tristeza em determinados momentos, sobretudo, em datas especiais, transformando aquela dor intensa em lembranças e saudades.