As cerimônias de despedida dos povos indígenas envolvem ancestralidade e manifestações culturais milenares e durante anos, diversos povos seguem mantendo seus rituais para lidar com a dor do luto, homenagear um ente querido e se despedir de alguém que se foi. As práticas realizadas variam muito entre as comunidades, pois existe uma diversidade de povos,culturas, tradições e crenças.
As tradições culturais seguidas no luto dos povos indígenas envolvem diversas práticas como:danças, cantos, cerimônias religiosas, entre outras manifestações que sirvam para homenagear quem se foi e confortar aqueles que sofrem a dor da partida. Esses momentos costumam, ainda, enfatizar a sabedoria e o conhecimento dos mais velhos, colocando membros de idades mais avançadas no centro dos costumes que visam o apoio emocional e espiritual.
Como funciona o processo de luto dos povos indígenas?
Os rituais de luto dos povos indígenas podem variar em tempo. Alguns povos costumam cumprir suas cerimônias por um período mais curto, enquanto outros levam dias realizando suas práticas de despedida. Algumas tradições costumam buscar uma conexão com a natureza, o que demonstra o respeito, o valor e o forte elo que os povos indígenas têm com os bens naturais.
Quais são os rituais adotados pelos povos indígenas no processo do luto?
Kuarup
Alguns indígenas do Alto Xingu, em Mato Grosso, têm como tradição o Kuarup, um ritual cujo o nome vem de uma madeira. A cerimônia costuma ocorrer sempre um ano após a morte dos parentes indígenas. No ritual, os troncos de madeira representam cada homenageado. Eles são colocados no centro do pátio da aldeia, ornamentados, como ponto principal de toda a prática
Em torno desses troncos, a família faz uma homenagem aos mortos, passam a noite toda acordados, chorando e rezando pelos seus familiares que se foram. E é assim, com rezas e muita emoção, que se despede, pela última vez.
Esse ritual de luto dos povos indígenas é considerado um dos mais conhecidos do Brasil. Em 2020, devido à pandemia, a cerimônia ficou suspensa devido aos protocolos de segurança que precisaram ser seguidos.
Pyr Pej de Pyp
Cumprido pelo povo Krenyê, do Maranhão, o Pyr Pej de Pyp (tora grande) busca celebrar a finalização do período de luto. O momento marca a ruptura da dor e o despertar da alegria. Durante o ritual, podem ser realizadas diversas atividades, como pinturas corporais, cantos, fogueiras e corridas com a tora grande, além de outros momentos que fazem parte da cultura desse povo. A celebração do Pyr Pej de Pyp é uma importante conquista para esse povo, que até o ano de 2018, não possuía território demarcado e, consequentemente, não realizavam os rituais ancestrais de sua etnia.
Amji kin
Tradição dos povos indígenas de Tocantins, Amji kin é uma expressão que a etnia Krahô utiliza para se referir à felicidade. As cerimônias também costumam envolver cantos, danças,troca de alimentos, corrida de tora e rituais de “passagem”, seja de idade ou final de luto. Além da Amji kin, o luto dos povos indígenas de Tocantins também costuma envolver a cerimônia Pàrkapê, que marca a finalização do luto entre a etnia Apinajé. É um momento em que toda a aldeia está reunida, sendo que os Mkarõ (espíritos ancestrais) se fazem presentes durante toda a cerimônia, tanto na corrida de toras, que podem representar pessoas falecidas, quanto nas noites de cantos.
Cada povo lida com a dor do luto e com a despedida de uma maneira. Costumes, tradições, cerimônias e rituais devem ser preservados e fortalecidos para que familiares e todas as pessoas que sofrem com a perda possam lidar com a morte de uma forma mais branda, possam encarar esse processo, entender a realidade inevitável e seguir com a vida, vivendo todas as experiências que os próximos caminhos podem proporcionar.
O luto é um processo emocional carregado de emoção e desafios. As cerimônias e rituais realizados para lidar com esse momento podem atuar como apoio mútuo entre amigos e familiares, além de proporcionarem a externalização de sentimentos. Vivenciar um rito de luto ou uma cerimônia fúnebre pode ajudar as pessoas a aceitarem a realidade da perda e a encontrarem consolo nessas tradições ritualísticas. Isso pode facilitar o processo de luto e permitir o início da cura do luto.
